terça-feira, 17 de junho de 2014

O resgate do Zé

Faz um mês. Era um sábado de manhã nublada, enquanto me aprontava para sair de casa escutava um choro desesperado de filhote de cachorro. Não consegui ser alheia a todo aquele desespero, saí na rua, olhei, procurei e nada. Na vizinhança todos os moradores de quatro patas já são grandinhos e não choram mais naquele tom. Mas, alguém chorava e muito.

Voltei para dentro de casa e segui ajeitando as coisas para sair, quando a mãe chegou comentei, a essa altura a Amora já estava em alas andando de um lado para o outro. Afinal, a audição dela é bem mais apurada do que a nossa. Olhamos, pensamos, e não imaginávamos de onde estava vindo o choro - que seguia constante.

Estávamos entrando no carro quando um senhor e a sua mãe pararam perto de uma pilha de tijolos, na obra aqui na esquina de casa. O choro vinha dali, sob o palete que apoiava os tijolos havia uma bolinha de pelos. Estica daqui, puxa de lá, peguei ele. Aconcheguei no colo e saímos, eu e a mãe, deixando os compromissos para trás. A ideia era conseguir alguém que ficasse com ele, que fosse cuidar. Ele resmungava, mas estava aparentemente gordinho e bem cuidado.

Uma tentativa, duas. Uma foto no Facebook. Até o início da tarde a estadia dele aqui em casa era temporária, ele iria para uma feira de adoção da ONG no domingo. Ou ainda tínhamos a esperança de encontrar o dono dele - um cachorro de cerca de 45 dias, aparentemente de raça. Mas, quando eu peguei ele para olhar mais de perto, mexer no pelo, e até dar um banho, já que ele estava sujo de ter ficado sob os tijolos, tive certeza que ele não tinha dono. E se tivesse alguém que se dizia dono eu não devolveria, ele tinha pulgas e carrapatos em todos as fases possíveis.

Dei banho, sequei, mimei. A mãe foi convencida, após algumas condições, sobre a permanência do moço aqui em casa. Batizado de Zé, o nome que o mano sempre quis dar a um cachorro desde que a Mell chegou aqui.


Registro dos primeiros dias do Zé no novo lar

Há um mês eu já dormi no sofá. Trabalhei em um domingo quase torta, afinal dividir o sofá com o Zé e com a Amora não é fácil. Dormi uma noite no chão da sala, com os dois em um colchão de solteiro. Transferi ele para o meu quarto, o travesseiro ao lado da cama, que a Amorinha não ocupa é dele. O travesseiro, o tapete, os pés da cama.

Ainda não consigo olhar para o José ou qualquer bichinho abandonado e entender como alguém tem coragem de fazer isso. Ele tem amor de sobra. Mesmo tendo sofrido demais. Como eu sei que ele sofreu? Ficar sob tijolos em uma manhã fria deve servir por si só. Mas, ele deve ter passado coisas piores. O motivo das minhas noite no sofá e no chão da sala é o desespero dele ao ficar sozinho e preso em algum lugar. Aqui em casa ele estava protegido e quentinho, e mesmo assim chorava. Já tivemos outros filhotes aqui, em que bastava tirar eles da "prisão" e o choro cessava. O Zé seguia chorando, tremia e nada que parasse antes de uma meia hora.

Hoje ele chora de sem vergonha, com a cara mais deslavada do mundo, uma cara de coitado. O choro ocorre na frente do sofá, do lado da minha cama, em frente ao armário da cozinha onde fica a ração ou ainda na frente que qualquer um que se mostre um colo em potencial. Ele quer carinho.

A Amora não curtiu muito a ideia de dividir o espaço e as coisas dela. Filha única. A relação dos dois é engraçada, é preciso dividir o colo, a comida, os brinquedos, a cama. Tudo é duplo, mas eles querem o mesmo. Quando são separados, um vai ao encontro do outro. Agora, tem um momento que ele ainda não entendeu que ela não quer brincadeiras: de manhã. O filhote de três meses pula da cama ligado na tomada, a filhote - velha ranzinza - de 11 meses demora a despertar, curte a preguiça e rosna a cada tentativa de contato.

Um mês depois

Posso dizer que o Zé já dobrou de tamanho e segue dormindo dentro de casa. Esperaremos os próximos meses para saber qual será o porte do moço de patas grande e fofíssimas. E, por mim, ele segue abrigado no quentinho da casa. Rua, frio, tijolos e choro nunca mais. Adote, resgate, é tudo de bom!

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